#57/115

24 junho 2013
Nada como uma boa causa para ajudar a levantar o ânimo. 5Km este domingo de manhã. Corpinho dorido mas a alma feliz.

Em guerra com o mundo

18 junho 2013
Mais um de muitos dias não. Quando se faz terapia é mesmo assim. Um dia damos um passo em frente, no dia a seguir damos 3 ou 4 para trás. Depois de um dia afogada em papel; depois de voltar a relembrar que aquela pessoa ligou o botão OFF em questão de segundos e não, não nos quer de volta de maneira nenhuma; depois de cair em mim e lembrar que tenho um corpo tão afanadinho que tenho de dizer ao relógio biológico para ir tocar para outras freguesias;  depois de andar entalada nos transportes publicos e depois de uma hora a levar nas orelhas do Dr. J. e quando finalmente consigo chegar a casa a pensar "Sobrevivi!", a única coisa que me apetece é enfiar-me debaixo dos lençóis e acordar daqui a cem anos.
Só me resta enfardar as gomas que estão ali a chamar por mim e esperar que o ânimo regresse.

#52/115

Como ser feliz durante 30 segundos.

Um petit-gateau. Recheadinho com chocolate. Que derrete rapidinho no microondas. Que se espalha assim que se espeta o garfo. Que consola até a alma de defuntos. 30 segundos foi o tempo que levei a devorar um. Fui feliz durante aqueles 30 segundos.



Todas as manhãs a mesma história...


Dizem que o tempo cura tudo

17 junho 2013
Mas o que é que se faz quando somos nós que não queremos que o tempo passe? O que é que se faz quando curar significa esquecer uma das nossas melhores lembranças? O que é que se faz quando deixar que o tempo cure tudo, é deixar que o tempo leve o melhor que houve de nós nos ultimos tempos? O que é que se faz quando o que precisamos esquecer e que nos faz sofrer, é ao mesmo tempo a nossa luz ao fundo do túnel e a nossa esperança de que é possivel? O que é que se faz quando queremos que o tempo cure tudo mas não queremos ser curadas?

Das coisas que me intrigam...

14 junho 2013
De todas as vezes que me encontro com o Dr. J., ele tem sempre um sorriso para dar, um ombro para desabafar, sempre calmo e bem disposto. E acreditem que se há coisas que até têm piada e nos fazem desatar a rir feito estúpidos no meio do consultório, também há coisas que me fazem sair de lá com vontade de esquecer que a minha vida existe. Mas o que me faz confusão e já várias vezes me perguntei a mim mesma é, mas este homem não tem dias maus? Nunca está chateado ou triste? Tem uma vida assim tão perfeita que leva com os problemas dos outros como se nada fosse? É certo que é a profissão dele e é para isso que eu lhe pago mas quer dizer, sejamos realistas, os psicólogos também são humanos e têm problemas e dias maus como qualquer um de nós. Um dia pergunto-lhe qual é o truque....é que até me dava jeito. E a memória de elefante do homem? Nem vos conto...

Carta ao meu rico Santo Antoninho

13 junho 2013
Querido Santo António,

Ontem foi dia de festejos e folia. Comemos bifanas com sabor a sardinha até rebentar, bebemos sangria manhosa até cair para o lado e bailhámos muito ao som do "Cheira bem, cheira a Lisboa".
Ao contrário dos outros anos e do que manda a lei, não levaste moedinha*. Estamos em crise, o FMI anda a rondar e o governo manda apertar o cinto começando pelo corte nos salários. Considerando que o teu desempenho tem deixado bastante a desejar nos últimos tempos, achei por bem relembrar-te que para se receber pilim é preciso dar no duro. Fazer o mínimo e indispensável para que não se perca o estatuto, nos tempos que correm não é suficiente. Fazer onze casamentos num ano, qualquer santo de beira de esquina é capaz de fazer (basta dar um empurrãozinho à Câmara Municipal de Lisboa) e com a taxa de desemprego que por aí anda, o que não faltam são santos dispostos a ocupar o teu lugar em troca da moedinha habitual e de um serviço como manda o figurino. Sei que possuis o estatuto de Santo há já alguns anos e que com o passar do tempo cada vez é mais dificil exigir de ti o que quer que seja. És mais ou menos como aqueles funcionários públicos que já estão no seu posto há décadas. E que por mais antipáticos que sejam, ou que por mais papel que se acumule e que por menos que façam para cumprir as funções para as quais são pagos, não há maneira de os tirar dali porque já fazem parte da mobília.
Para além do desleixo nas tuas funções, tens andado a perturbar colegas de departamentos adjacentes ao teu. Constou-me que andas a ocupar grande parte do teu tempo a fazer pausas para cafézinhos com o Sr. Cupido. Já a minha mãezinha dizia que excesso de cafeína faz mal à saúde. Ultimamente, o Cupido tem apresentado muito pouca eficiência no seu trabalho devido a uma tremura de mãos na altura de usar o arco e flecha. Lá está, cafeína a mais. O que, por sua vez, tem provocado um crescente prejuízo na minha sanidade mental. A partir de hoje acabaram-se os cafézinhos com seres alados. Não é um pedido, é uma exigência.
Concentra-te em contribuir para o crescimento português, de preferência com alguma qualidade e a preencher os requisitos mínimos. A conta no psicólogo agradece e as minhas noites de sono também.
Depois disto, espero que repenses a tua atitute nos próximos 12 meses. Vemo-nos em 2014 para novo balanço que, apesar das  muitas más previsões, se espera mais positivo.


Com os melhores cumprimentos,

Assinado
A tipa que te faz a folha se voltas a repetir as façanhas dos últimos tempos.




* na noite de santo antónio, uma das muitas tradições ligadas ao santo casamenteiro passa por "pedir" um noivo, atirando uma moeda para cima da estátua que está localizada junto à Sé de Lisboa. 

É hoje!!!

12 junho 2013

Coisa da Psicologia #3

Oh homem, decida-se! Ou acha que devo ficar sozinha ou acha que devo de procurar a última batata frita no meio do deserto do Saara. Entretanto, eu gostava bastante de preservar o que me resta da minha sanidade mental...

(na consulta, depois de falar sobre um jantar de amigos que não via há muito tempo)
Dr. J. - E achou alguém interessante?
Eu - Não. Pelo menos não nesse sentido...
Dr. J. - Sabe que seria uma situação possivel de acontecer e prefeitamente normal?
Eu - Sim, sei disso. Mas não.
Dr. J. - Sabe que pode confiar em mim e ser sincera?
Eu - Continuo sem me sentir interessada...

#46/115

Pronto, confesso que manter este "diário" é dificil comó caraças.
Gosto muito do meu cantinho, mas a vida lá fora não perdoa. Trabalho a potes até cair para o lado, fim de semana prolongado num Algarve sem sol mas com jantarada de amigos. A vida podia correr melhor? Poder podia. Mas claramente vai no bom caminho :).

Aqui que ninguém nos ouve...

07 junho 2013
"Tu não percebes que, se não tivesse sido uma relação de amor, até podiamos ser amigos. Íamos almoçar  de vez em quando e, quem sabe, até mandar uma trancada. Há tanta gente que faz isso...Mas quando a coisa é séria, depois, é muito difícil passar do amor para a amizade. Parece falso, percebes?"

Margarida Rebelo Pinto, in Alma de Pássaro

#39/115

05 junho 2013
Um amigo foi a Salamanca a trabalho. Enviou-me um postal somente pelo gozo de enviar um postal a alguém quando se está fora. Chegou hoje pelo correio muito depois de ele ter regressado a Portugal. Fiquei com um sorriso de orelha a orelha no rosto. Ainda há gestos bonitos neste mundo...

Tenho um feeling...

03 junho 2013
....que a Margarida e o Dr. J. andaram a conversar um com o outro.

"... e tu tens de aprender, duma vez por todas, que não se pede amor a ninguém, nem se dá a quem não merece. Mais vale estares sozinha do que prolongar essa tristeza. Livra-te disso, aproveita este episódio triste e caricato para arrumar o assunto de vez e recomeça da estaca zero, mas recomeça por ti e para ti, sem bengalas, ..."

Margarida Rebelo Pinto, in Alma de Pássaro

#37/115

02 junho 2013
Isto de pensar em algo positivo todos os dias tem muito que se lhe diga. Quando pensei nisto, a intenção até era boa mas realmente não sabia onde me estava a meter. Primeiro, porque a maior parte dos dias chego do trabalho tão K.O. que a única coisa em que consigo pensar é morrer no sofá e vegetar em frente à TV. Segundo, porque tenho de voltar à escola primária para aprender a contar. Estou constantemente a enganar-me na porra dos dias.
Enfim... isto só para dizer que este fim de semana serviu para fazer muito pouco. É isso mesmo. Por casa ou a aproveitar o sol, estive sozinha com os meus pensamentos, em modo relax e sem grandes preocupações. E posso dizer que foi muito bom.

How I met Dr. J.

É muito fácil de assumir que nos dói o estômago ou as costas. Facilmente comentamos que fomos fazer análises ou um raio-x ou até mesmo um papanicolau. Mas ninguém assume que lhe dói a alma, que já não consegue mais, que chegou ao limite. Por vergonha. Por preconceito. Porque assumir que o tico e o teco estão doentes é esperar ver na cara do outro um "tadinha, já foste!". Muitas das vezes são os de fora de nos levam a assumir e a procurar ajuda. Porque não é fácil reconhecer e mostrar aos outros que quebrámos, que não aguentamos mais, que afinal não somos de ferro.
 
É um assunto íntimo. Muito íntimo. Então porquê escarrapachá-lo na net? Para que quem está a passar pelo mesmo que eu passei há uns tempos atrás, saiba que não faz mal. Não faz mal assumir que não estamos bem. Não há problema nenhum em dizer "Dr. dói-me a alma, preciso de ajuda". Afinal quantas vezes dissemos "Dr. dói-me a unha do dedo grande do pé, preciso de ajuda". Qual é então a diferença entre a unhaca do dedo do pé e a nossa alma? Nenhuma. Ambas fazem parte de nós. Ambas são resistentes até certo ponto. Ambas têm limites. Bem, talvez a unhaca seja mais resistente. Com os pontapés que eu dou quase todos os dias no móveis (desastrada que só visto!...) a unhaca continua inteira. Continuando a falar de assuntos sérios...

Eu assumi. Não foi fácil. Não foi mesmo nada fácil. Fi-lo sozinha. Talvez tivesse sido mais fácil ter tido o apoio de alguém, mas eu sou mesmo assim, não sinto necessidade de partilhar os maus momentos. São meus e ponto final.
Levei semanas até conseguir colocar realmente os pés numa consulta. Falei com n psicólogos (sempre por email, que ir lá pessoalmente... tá quieto!), marquei várias consultas das quais desisti sempre à última da hora. Consultas perto de casa, longe de casa, em consultórios, online...mas nunca consegui ir a nenhuma. Medo. Tinha muito medo. Medo de me expôr perante um estranho, medo de "fazer figuras tristes", medo do psicólogo gozar comigo, medo de simplesmente não conseguir abrir a boca para falar. Medos que se revelaram completamente infundados.
No meio deste marca consulta, desmarca consulta, vou, não vou, mandei um email para o consultório do Dr. J. Ao contrário de todos os outros ele não me respondeu de volta. Nem mandou a recepcionista falar comigo. (Bem, também é verdade que ele não tem recepcionista....) Agarrou ele mesmo no telefone e falou comigo directamente. "O quê? Sim, sou eu...Marcar consulta?? O quê?? Consigo???Não sei...Pois... Talvez...Pode ser...Então vemo-nos na consulta. Pois...Então adeus". E pronto, consulta marcada. Paniquei como nas outras vezes? Nop! Enquanto olhava feita anormalóide para o ecrã do telemóvel, à espera sabe-se lá do quê, o sentimento de calma e serenidade que a voz do Dr. J. me tinha transmitido só me fez pensar "Epá! Até gostei do homem!"

E, voilá! Lá fui eu ter com o Dr. J., que me ouve pacientemente, que me diz aquilo que não quero ouvir, que me faz pensar na morte da bezerra, que gosta de ouvir os meus filmes e os meus macaquinhos no sótão (caraças do homem que nem os pormenores sórdidos escapam....), que tem mil e uma teorias sobre o meu tico e teco e que diz que eu ainda consigo ter mais teorias que ele...